- Bandeira velho falão, Manuel dizia. O "velho", era do tempo e do tamanho da fala, porque de idade não tinha nenhuma poesia.Margarida tava em casa fazendo comida e devia ser por causa do filme que se abriu em "fanfarrão".
- Fanfarrão?
- Não, falão! Fala tanto que nem se lembra de nada. E sempre fica tão... tão chato de doer.
- Não! É chique de doer, que se fala - Mulher que é mulher dá uns toques.
- Ah, sim, mas o Bandeira, é mesmo falão, olha tanto pra gente, que fica até sem tempo, falão, falão demais,
chato de doer pra cacete.
- Falão, ser chique que dói! Oras! Não entendo este vocabulário, que conversa de doido... - Margarida faz cara de doida rodando o indicador perto de uma das orelhas.
- Mulher, ouve, me passa um pão e não sejamos falão também - Margarida lhe dá a sopa.
- Eu falei falão, quer dizer.. pão, você que está a me deixar louco! Olha... não me oportunes que sou Manuel Pereira, de Bandeira não tenho nada ora essa, não me faça repetir - Manuel vai a cesta e pega um pão, molha na sopa e quando vai levar o pedaço boca:
- Ora que estás a ficar como Manuel, falão. Quer dizer, como... - Manuel bate o prato e a sopa cai pelos lados.
- Que história é essa que estás a inventar? Não sou o Bandeira! Vou-me já pra outro lugar. Ora essa...
que de falão já basta, que de falão... vou te dizer uma coisa só... ora essa...
Banderia, por enquanto não ouvia a conversa, por isso, já não estava nela.
- Manuel, eu nunca vi este nome falão, se ainda fosse fanfarrão, estávamos a rir, que sobra de falta de humor
que ficastes por aí...
Manuel, de pé, estava vermelho-rubro-intenso a esta hora:
- Mulher! Já te disse! Estas surda?!! De Manuel à falão cá eu estou livre, livre, ouviste? Quer dizer... de Bandeira à... Bandeira aparece na porta:
- Oh, mas estavas a ouvir o meu nome? Como é bom ter estima, e ter um um bocado pequeno de senso sensível, assim, posso ter estes ouvidos agradecidos, tão meus, oh, que só os meus poderiam perceber que tudo a mim se passa, quanta graça, que só a mim do que ouço por aqui seria bem quisto, como sou grato pela vida afora, o que mais eu quereria nesta vida que ficas a ser tão ingrata com todos e que me presenteia assim desse tanto? E blá, blá, blá... (5 horas de blás depois...)
Margaria e Manuel, Bandeira não, desmaiaram abraçados com miolos de pão nos ouvidos nos primeiros cinco minutos, enquanto o verdadeiro Bandeira, o velho falão, falou até ficar rouco e cair de sonolento em cima deles que acordaram e levaram sonífero em colher de sopa, rápido. Antes que falão falasse, o levaram pro quarto e passaram a chave na mão. Lembraram dela quando estavam na cidade chamada Mudos onde só eles faziam a oração do silêncio com muito respeito.

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