Alma



Um dia inteiro a noite. A dor era boa. Tudo o que eu queria era que esta hora chegasse. Eu ficava ali, na horizontal, soltando o peso de me fragmentar. E ali, na cama podia qualquer coisa. Me fechava. Me juntava. Me abria E esquecia que ali também tinha olhos.
Eram azul. Me decifrava, era um convite. Mas, naquele tempo eu era voz, e não ouvia.
Nunca perguntei porque me olhava assim. Depois da nossa aliança, era difícil ser alma.
Abrir os olhos sem movimento de corpo começou a acontecer. E quando chegava a hora de abrir os meus, ele estava ali me olhando com aquele céu molhado de mistério.
Aquela cor. Aquele homem. Às vezes sorriam de leve. Uma contemplação que me dava medo. Quem estava acordado em silêncio?
Dentro de mim muitas vozes agudas. Mas do piano, esta tecla que ardia. De manhã tirava do sonho os olhos fechados dele. E me acompanhava de pés para o meu mundo e o dos outros. Ele ia.
Na chegada do ponto, a despedida. E aquele olhar de novo me atravessando. Me dizendo o que nunca escutei.

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