Sobre ótica de entrada e saída

Feito um milagre daquele momento, a porta se fechara. João com sete dezenas esperava há duas décadas por isso. Agora, só mais uma coisa por aqui, precisaria aguardar a ladainha para sair atravessando madeira, tijolos e terra, tudo como sempre imaginou.
Um presente do resto de etéreo, não precisou esperar, já sentia o ritmo diferente de tempo, mas o que lhe sucedeu foi que uma formiguinha lhe trouxe uma sensação boa. O primeiro curta se fez, a filha antes de ser moça, de short vermelho e congas segurando sua mão esquerda, queria levar um cachorro sarnento para casa. Sorriu, porque lembrou que juntos cuidaram das feridas do Hot Cão até sarar. Ouviu alguma coisa que veio de cima, o tempo agora, parecia igual, podia ouvir tudo, tudo mesmo, e sentir também, mas o que tinha em cima do seu metro de concreto? Flores, parafina, asas de inseto, cabelo de velha, choro amarelo... parou, continuou, sininho balançando junto, era unha cavando, que barulho de inferno, unha que não quebra, não tinha terra em cima, cavando o quê? O sininho tava a mil. Dali onde estava podia saber tudo, mas depois de pensar em tudo o que poderia, identificou que gente não era. E saiu esquecendo de algum médium bisbilhoteiro e até mesmo do teu sonho da estréia, agora sem suor no peito, atravessando o que já foi dito no primeiro parágrafo. Saiu de pé e viu Hot Cão pulando e caindo de todos os lados por cima de si, Hot atravessava e ia, de novo por trás, e a mesma coisa. João, parado, ficou desesperado por não conseguir atingir lágrimas de fato. Voltou para teu alambrado sem se despedir, e ali ficou até o cão ir crispado com o short vermelho na boca depois de meia noite. Acordou há anos luz sem aparência sua ou nenhuma pra começar a viver outra vez.

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